Por ROQUE CITADINI
.
Com a derrota da Seleção Brasileira na Copa do Mundo as primeiras explicações pelo mau desempenho ficaram a cargo do técnico.
.
Ultrapassada a fase inicial da amargura e da raiva, que atingiram a todos, restou um problema que pouca atenção recebe da mídia, mas muito nos afeta: a clara existência no elenco de jogadores de grande número de fundamentalistas religiosos.
.
Eles se auto-denominam “atletas de Cristo”, no caso da Seleção, dividindo-se em dois grupos: um núcleo dos mais importantes, formado por “evangélicos puros”, detentores de uma visão religiosa mais fundamentalista; outro, dos que se declaram atletas de Cristo somente para entrar na onda. Na verdade, todos estes jogadores “tomaram a Seleção”.
.
Seus critérios se tornaram os da própria Seleção; seu padrão de relacionamento passou a valer para todo o grupo; até as convocações de jogadores eram submetidas ao filtro ideológico destes atletas.
.
O técnico Dunga não é, e nunca foi, um dos “atletas de Cristo”, pelo contrário, mas seu auxiliar Jorginho foi elemento importante na supremacia religiosa que passou a definir os rumos da Seleção Brasileira.
.
Quem assistiu aos momentos anteriores à entrada do time em campo, ou durante os intervalos, ficou estarrecido com o caráter bíblico e “religioso” que os jogadores davam às partidas, em orações em altos brados.
.
O que é grave em todo este predomínio de Jorginho e dos atletas de Cristo é que eles vêem na vitória esportiva uma dádiva de Deus, que a conquista pessoal é retribuição de sua vida “religiosa”.
.
Certamente Dunga foi ultrapassado por Jorginho e pelos fundamentalistas, que, com seus critérios de vida pessoal, definiam desde a convocação até as escalações.
.
Esta confusão, que junta missão bíblica de dar testemunhos de que cada um é homem de Jesus, e que a vitória no esporte é um prêmio de Deus aos retos, seguramente foi um dos fatores que explicam o insucesso do selecionado brasileiro.
.
Não sei se a mídia terá coragem de, no atual momento, questionar estes padrões fundamentalistas religiosos, que tanto mal acarretam aos esportes, mas está aí uma questão da qual não podemos nos furtar.
.
Talvez um bom caminho para se conhecer o que ocorreu fosse ouvirmos nosso tetra-campeão Romário.