Na segunda quinzena de dezembro, se nada mudar até lá — e na política baiana tudo muda até dar certo — o ex-prefeito de Juazeiro, Isaac Carvalho (PSD), deve oficializar apoio a ACM Neto. Será mais um tremor na já remendada base do governador Jerônimo Rodrigues (PT), desta vez em pleno norte do estado.
A operação tem CPF conhecido: o deputado estadual Jordávio Ramos (PSDB) e o deputado federal Adolfo Viana (PSDB), ambos alinhados a Neto. São eles que conduzem, com a devida discrição, o pouso suave de Isaac no campo netista.
Oscilante é pouco para definir a trajetória do ex-prefeito. Já passou por PCdoB, PT e agora está no PSD. Troca de siglas e de lado com a mesma desenvoltura com que muda o discurso. Seu plano, hoje, é simples: apoiar Jordávio em 2026 e, assim, selar o alinhamento completo com o grupo de ACM Neto. Candidato ele próprio não deve ser. Se entrar no jogo, será mirando a Câmara Federal — desde que resolva pendências judiciais que ainda o assombram.
A ruptura com o PT não nasceu de súbito. Foi fermentada nas eleições municipais do ano passado. A cúpula petista insistiu até o fim em sua candidatura à prefeitura de Juazeiro, atropelando aliados como PV, PCdoB, PSB e MDB. Impedido de concorrer pela Justiça, o que tratou como frustração pessoal e política, Isaac migrou para o PSD com o aval do senador Otto Alencar. De lá, lançou o sobrinho, Celso Carvalho, candidato da mesma sigla.
O resultado foi uma soma de irritações: aliados contrariados, governador desconfortável e uma base que não sabia se defendia Isaac, Celso ou o próprio governo. Quem riu por último foi Andrei Gonçalves (MDB), eleito prefeito em uma das maiores surpresas do pleito. A candidata de ACM Neto, a então prefeita Suzana Ramos (PSDB), perdeu a reeleição. Adversária histórica de Isaac, virou detalhe de rodapé numa disputa que redesenhou o mapa político da cidade.
Agora, o “reposicionamento político” de Isaac, como alguns interlocutores preferem chamar, encaixa-se numa sequência de movimentos em direção a ACM Neto. Deputados como Nelson Leal (PP) e Cafu Barreto (PSD) já migraram para o campo netista. Só Cafu, por enquanto, deseja reeleição. Ainda assim, o gesto de cada um ajuda a compor o quadro de esgarçamento da base de Jerônimo.
Otto Alencar, padrinho político de muitos desses movimentos, não poupou críticas à decisão de Cafu. Resta ver o que fará — e o que dirá — diante de uma eventual adesão de Isaac. Amigo pessoal, aliado de longa data e protagonista da novela de Juazeiro em 2024, Isaac é tudo o que Otto sempre defendeu em público.
Se confirmar o salto para os braços de ACM Neto, ficará a lição que a política nunca se cansa de ensinar: lealdade, na Bahia como em Brasília, tem prazo, preço e conveniência. E, quase nunca, é eterna.